Os acontecimentos, a que se
refere o Terceiro Segredo de Fátima deixa o permanente apelo à oração e à
penitência para a salvação das almas
Infelizmente, circula na
internet um tal Terceiro Segredo de Fátima, que muito assusta as pessoas,
como se o Papa João Paulo II não o tivesse revelado no ano 2000. No dia 26 de
junho deste ano, foi revelado, com a devida autorização do Papa, o verdadeiro
Terceiro Segredo de Fátima, que tanta curiosidade, medo e, às vezes, pavor,
despertava no povo. Na verdade, houve muita fantasia prejudicial às pessoas.
Nas suas três partes, o segredo nada tem de previsões sobre o fim do mundo nem
de catástrofes ou flagelos.
Com a revelação do segredo,
feita por meio da Sagrada Congregação da Fé, com uma interpretação feita,
a pedido do Papa, pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje o Papa Bento XVI,
prefeito da citada congregação na época, viu-se que se trata de uma visão do
século XX, século este impregnado de mártires do comunismo, do nazismo e de
outras forças inimigas da Igreja e de Deus. Milhões morreram pela fé.
Na entrevista que Dom Tarcísio
Bertone, então Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, teve com a Irmã
Lúcia, por ordem do Sumo Pontífice, em 27 de abril de 2000, no Carmelo de
Coimbra, onde vivia a religiosa, esta, lúcida e calma, concordou com a
interpretação do segredo, segundo a qual a terceira parte do Segredo de Fátima
consiste numa visão profética, comparável às da história sagrada. Ela reafirmou
a sua convicção de que a visão de Fátima se refere sobretudo à luta do
comunismo ateu contra a Igreja e os cristãos e descreve os duros sofrimentos
das milhões de vítimas do século XX.
Irmã Lúcia confirmou que a
principal personagem do segredo era o Santo Padre e recordou como os
pastorinhos tinham pena dele. Com relação ao “Bispo vestido de branco” (o
Papa), que é ferido de morte e cai por terra, a Irmã concordou plenamente com a
afirmação do saudoso Papa João Paulo II: “Foi uma mão materna que guiou a
trajetória da bala e o Santo Padre deteve-se no limiar da morte” (Meditação com os Bispos italianos na Policlínica Gemelli, 13 de
maio de 1994).
É interessante destacar o que
diz a Irmã Lúcia: “Eu escrevi o que vi; não compete a mim a interpretação, mas
ao Papa”. A ela foi dada a visão, não a interpretação. Mais uma vez, vemos aí a
importância da Igreja e do Pontífice. E
a Irmã concordou com a interpretação dada pela Igreja. Na interpretação do
segredo, já bastante publicado e conhecido, feita pelo Cardeal Ratzinger,
alguns pontos merecem ser destacados:
1 – A palavra-chave da
primeira e segunda parte do segredo é “salvar as almas”; a palavra-chave da
terceira parte é “penitência, penitência e penitência”. O mesmo cardeal lembrou
que a Irmã Lúcia lhe disse que o objetivo de todas as Aparições da Santíssima
Virgem era fazer crescer, cada vez mais, a fé, a esperança e a caridade.
2 – A visão do anjo com a
espada de fogo representa o perigo da destruição da humanidade por si mesma,
por meio da guerra e de outras formas. O brilho da Mãe de Deus aparece como a
força capaz de vencer as forças da terrível destruição.
3 – O sentido da visão não é
mostrar um filme sobre o futuro, mas uma forma de orientar a liberdade humana a
buscar o bem. Há que se evitar, portanto, as interpretações fatalistas do
segredo, como se tudo já fosse traçado para acontecer, sem respeitar a
liberdade dos homens. O futuro é visto como que num espelho, de maneira
simbólica.
4 – Três sinais aparecem: uma
montanha alta, uma grande cidade meio em ruínas e uma grande cruz de troncos
toscos. A montanha e a cidade são o lugar da história humana, de convivência,
mas de luta; como uma subida árdua no qual o homem destrói, com as próprias
mãos, o que ele mesmo construiu (cidade em ruínas). No alto da montanha está a
cruz, meta e orientação da história humana, sinal da miséria humana e promessa
de salvação.
A visão mostra o caminho da
Igreja como uma Via-Sacra, ladeado de violência, destruição e morte, mas também
de esperança. Diz o cardeal que, nesta imagem, pode-se ver a história de um
século que se finda. O século dos mártires, dos sofrimentos e das perseguições
à Igreja. Século de duas guerras mundiais e de muitas guerras locais. No
espelho desta visão, vemos passar as testemunhas da fé deste século.
O cardeal fez questão de
recordar o que a Irmã Lúcia disse ao Papa João Paulo II, em 12 de maio de 1982,
um ano após o atentado sofrido por ele: “A terceira parte do segredo se refere
às palavras de Nossa Senhora: “Se não [a Rússia] espalhará os seus erros pelo
mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados,
o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas”.
Os
Papas deste século tiveram um papel preponderante na árdua “subida da montanha”
do segredo. Desde Pio X até João Paulo II, todos os Santos Padres
sofreram no caminho que nos leva à cruz.
5 – Destaca o mesmo cardeal
que o fato de o Papa não ter morrido no atentado de 13/5/81 significa que não
existe um destino imutável (na visão Sua Santidade aparece morta), e se a mão
de Nossa Senhora guiou a bala para que não o matasse, é porque a força da
oração e da penitência é maior do que as balas, e a fé é mais poderosa do que
os exércitos. Tudo pode ser mudado pela oração e pela conversão!
6 – Por fim, a visão mostra os
anjos que recolhem da cruz o sangue dos mártires e com ele regam as almas que
se aproximam de Deus. O Sangue de Cristo e o dos mártires são vistos juntos a
significar que o nosso sofrimento completa a salvação do mundo (cf. Cl 1, 24).
O sangue dos mártires é semente de novos cristãos, como dizia Tertuliano. E
assim, o terceiro Segredo termina com uma forte mensagem de esperança: nenhum
sofrimento é vivido em vão se é acolhido na fé. É de todo o sofrimento e de
todo o sangue derramado pela Igreja, no século XX, que brotarão as forças de um
novo Cristianismo no século XXI. Haverá uma forte purificação e uma renovação que já se
faz sentir no coração da Igreja. É a eficácia salvífica que brota do Sangue de
Cristo misturado ao dos Seus mártires.
7 – Os acontecimentos, a que
se refere o segredo, já são do passado; fica o permanente apelo à oração e à
penitência para a salvação das almas. O cardeal termina afirmando que a certeza
de Nossa Senhora de que, por fim, “o meu Imaculado Coração triunfará” significa
que um coração voltado inteiramente para Deus é mais forte do que as pistolas
ou as outras armas de fogo. A mensagem do Terceiro Segredo é uma mensagem de
confiança no Cristo que venceu o mundo (cf Jo 16, 33).
Estive em Portugal, logo após
a morte de Irmã Lúcia, em Coimbra, com a Dra. Branca, que cuidou da religiosa
até a sua morte. A médica disse-me que Irmã Lúcia concordou inteiramente com a
revelação feita pela Igreja sobre o segredo e que mais nada havia a revelar. Portanto, é preciso cessar a
divulgação de um falso Terceiro Segredo de Fátima, como se a Igreja não tivesse
revelado o verdadeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário