quarta-feira, 10 de abril de 2013

Misericórdia, a festa da conversão


Padre Fábio de Melo
Foto: Natalino Ueda/CancaoNova.com
A Festa da Misericórdia tem de ser a festa do encontro. Afinal, é a mística do encontro de Deus com o humano, com a miséria do homem.

Aquele que oferece a misericórdia torna-se inesquecível. Muitas pessoas passaram por nossa vida, mas aquela que nos amou quando nós não merecíamos ser amados, jamais esqueceremos. Experimentamos a miséria humana, seja de marido pra mulher, do amigo para o outro; a partir disso, podemos ter uma noção do amor de Deus por nós. A nós cabe oferecer ao outro um espaço no nosso coração.

A primeira aula de miserciórdia que vivemos é a experiência do amor de mãe. Elas sabem o significado do verdadeiro amor, da entrega, mas nem sempre oferecemos a misericórdia ao irmão. Hoje, queremos pedir a Deus que arranque do nosso coração todo pecado que, muitas vezes, nos privam de viver a misericórdia.

Hoje, ninguém está fora da graça que Deus nos concede. Todos nos temos misérias vergonhosas, mas a misericórdia é para todos, inclusive para aqueles que não têm coragem de dizer que “Deus o ama”.
O verdadeiro cristão é solidário ao outro
Foto: Natalino Ueda/CancaoNova.com
Quando alguém me ofender por gesto ou palavra, vou olhar na direção do seu amor, e dizer: Eu quero ter, ó meu Senhor, um coração igual ao teu. Nós sacerdotes nos tornamos padres por prestar atenção em alguém. Tivemos um modelo positivo, o qual nos atraiu.

O diabo virou quem é por conta da inveja que cresceu no seu coração - o desejo de ser como Deus. Ao invés de simplesmente ter um coração parecido com o do Senhor, ele quis estar acima do Mestre. O Evangelho de hoje nos convida a refletir o verdadeiro significado do sepulcro vazio em minha vida. O que ele diz para a minha vida naquilo que tenho feito?

Quando alguém nos machuca, trai nossa confiança ou faz algo contrário daquilo que esperávamos, retemos o pecado do outro em nós.

 
Encontramos pessoas destruídas, porque não conseguiram encontrar forças para perdoar!

Mesmo sabendo que o outro errou, se não o perdoarmos, acabaremos guardando o pecado dele no nosso coração. É por isso que precisamos ter um coração igual ao do Senhor. Que não alimenta dores nem rancores, tampouco ingratidão. A falta de conversão consiste em reduzimos nosso Cristianismo a um conjunto de ritos e obrigações. Em que situação você ainda não se parece com Jesus? A festa de hoje é de conversão, é momento de termos a coragem de olhar para nós mesmos e investigar onde não nos parecemos com Cristo. Seja na maneira de ser mãe, pai, marido, filho ou esposa.

A única religião que nivela as pessoas por baixo, que propõe as facilidades do pecado, é aquela que o diabo inventou. O verdadeiro cristão é solidário ao outro.

O espírito cristão é, antes de tudo, de solidariedade. Se você aceitou ser iluminado pela misericórdia precisará estar disposto a viver as pequenas mortes que nos fazem pensar no outro. O Cristianismo não é brincadeira; é difícil, mas em lugar nenhum você vai encontrar um Deus que faz de tudo para ter você por perto.

Quando alguém o ofender, é preciso olhar em direção ao Cristo e pedir um coração igual ao d'Ele. Isso, muitas vezes, significa que, mesmo diante de um desaforo, você deva se calar.

Quando alguém o ofender, peça a Deus essa graça. Assim, será mais fácil ser vizinho, amigo, colega, marido, esposa e filho. Não podemos viver na hipocrisia. Se alguém o maltrata, trate-o bem. Quem quer ter um coração misericordioso como o de Jesus, não paga com a mesma moeda. Se você não se sente acolhido, ofereça seu carinho e acolhimento. Seja cristão!

Mesmo quando alguém disser que essa atitude o torna bobo das pessoas, acredite que é melhor parecer “bobo” e ser como Jesus do que assemelhar-se à hipocrisia.

É na administração de nossas misérias que vamos alcançando um coração igual ao do Senhor. Não desanime. A misericórdia de Deus está sempre sendo oferecida em cada sacramento.

O amor de Jesus nos é oferecido. Mas o recebimento desse amor é comprometimento, pois, a partir desse momento, a sua vocação tem que ser o amor.

No nosso coração não pode haver espaço para rancores, mágoas e perdendo a oportunidade de ser feliz.

Hoje, na Festa da Misericórdia eu quero que o Senhor arranque do meu coração que me dificulta aproximar do seu coração e ser parecido com ele. Arranque as minhas mágoas, ressentimentos, preconceitos e tudo aquilo que é obstáculo para a sua graça. Hoje, eu quero um coração semelhante ao seu Jesus. Amém.

Transcrição e Adapção: Dado Moura

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Padre Fábio de Melo
Padre que evangeliza como cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção espiritual" na TV Canção Nova. 

(os grifos são do original - fonte: Canção Nova)

Seja Feliz!

Você é livre!

Um dos componentes mais constantes que encontro nas pessoas é a vaidade e o amor-próprio.

Mas não quero falar desses vícios com leviandade. Tenho descoberto que atitudes assim são máscaras. Frutos de traumas bem antigos e muito bem enraizados na alma.

E ninguém deve viver se escondendo de si mesmo.

Muito glamour, muita 'apoteose', muita festa, festa, festa...isso é sempre sinal de muita dor, dor, dor...É algo assim: "se eu parar e silenciar, vou ouvir os meus fantasmas berrando dentro de mim, me apavorando...não!" - e tornam-se pessoas alegres demais, barulhentas demais, e entretanto, frágeis demais. É nesse ponto que eu quero me concentrar.

Saber lidar com isso não é tão simples como parece. Mas é preciso aprendermos a lidar com isso.

A maioria das pessoas se esconde atrás de si mesmas, por medo de serem quem são, em consequência de traumas e decepções. Vivem em fuga.

E criam para si "perfis", "adornos" para si mesmas, para mostrarem aos outros. E se sentem confortáveis (seguras?) por trás de suas máscaras.

Uma das maneiras mais eficazes de você conhecer a verdadeira personalidade de alguém é nos transtornos, às vezes corriqueiros do dia-a-dia, às vezes não.

Escondemo-nos muito bem atrás de nossas "máscaras", de nossos "perfis".

Hoje, com a ajuda das redes sociais, isso ficou ainda mais fácil. As pessoas "criam um perfil" e vão vivendo as fantasias virtuais. Lá, são quem não conseguem ser na vida real.

Eu dizia que uma das maneiras de se conhecer alguém, verdadeiramente, é naqueles momentos de contrariedade. Mas, absolutamente, não é a melhor.

As pessoas, pressionadas por uma determinada situação, acabam sempre traídas por si mesmas, e se revelam - ainda que por alguns instantes.

Para um olhar treinado, é fácil detectar aquele lampejo de fúria que aparece no olhar, ou aquele trisnado súbito na voz, ou aquela mão que encrespa, ou a sombrancelha que se contrai, ou o sorriso desdenhoso...

Outra prova disso vem da forma como a pessoa passa a tratar você, depois de uma situação em que você a colocou em 'saias justas'. Sempre com ironias, irritadiça, e até evitando um contato direto - olho-no-olho. Provas de que você a colocou diante de si mesma, de que você a revelou, e a fez lembrar-se de alguém que ela realmente é, mas não aceita, e quer manter oculta, morta e enterrada dentro de si mesma.

Na opinião dessas pessoas, máscaras não devem ser tiradas. E num confronto, ainda que acidental, ao atinjirmos esse 'nervo', corremos o risco de nos tornar desafetos dessas pessoas!

Isso faz muita gente sofrer, pois em geral é muito comum nos confrontarmos assim com nossos familiares, de quem somos mais próximos, mas também pode acontecer em nosso ambiente de trabalho, ou numa condução, ou na rua.

Mas a caridade fraterna nos ensina que devemos ajudar nossos irmãos a se libertarem de si mesmos. Ninguém deve viver 'espremido' por seu passado, por suas dívidas, por sua sexualidade ferida ou agredida ou enrustida, por sua afetividade reprimida pela incompreensão dos pais, ou do marido, ou da esposa, por se achar feio/a, ou não tão inteligente...

Isso tudo leva à morte da alma, e nos faz sofrer terrivelmente, e toda dor é vazia, até encontrar seu significado na Cruz de Cristo. Não o Cristo morto, mas o Cristo que passou pela Cruz, passou pela dor humana, carregou-a em seus ombros, dando-lhe um significado transcendente, e verdadeiramente libertando-nos de toda essa opressão. 

Jesus na cruz nos fez livres de nossos egos feridos. Jesus na cruz deu-nos o passaporte para a felicidade. Jesus na cruz nos mostrou o caminho para a luz.

Se continuamos dentro de nossos casulos, é porque ainda não entendemos o significado de Jesus na cruz. Ainda não fizemos a 'passagem", a Páscoa.

Se continuamos sofrendo ocultamente, é porque ainda estamos com medo de que, ao aceitar Jesus na cruz, aceitaremos também as suas dores.

Errado.

Na cruz de Jesus, somente Ele sofreu. Sozinho. Esse foi o sentido do sentir-se abandonado pelo Pai. 

Jesus não podia compartilhar essa dor conosco, pois ele a estava sofrendo por nós. Em nosso lugar. Como diz o profeta, "Ele tomou sobre si as nossas dores" (Is 53,4). As nossas dores. Nossas. Não dEle.

Então não há nada a temer. Você pode deixar a sua máscara. Você pode deixar ir embora a sua dor. Você pode mudar o seu "perfil". Sair do casulo que lhe sufoca (há quantos anos?). Voe. Você é livre. Diga, bem forte: "Senhor, que eu veja a Luz!"

Jesus na cruz o libertou. Que Graça Maravilhosa!

Quando você conseguir compreender isso, você sentirá as amarras caindo.


E seja Feliz!

terça-feira, 9 de abril de 2013

Lição de Humildade

Não faz muito tempo - alguns dias - eu fui rotulado de 'grosseiro'. 

Sei que minha atitude, que gerou o comentário, foi altiva, até porque tenho a atitude de minhas convicções, e se assim agi, foi por defesa delas. Mas, depois, analisando os fatos, vi que meu comportamento não foi mais forte do que a atitude de quem me rotulara.

Isso nos leva a pensar o seguinte.

É difícil agradar aos outros, por isso nem tento. Mas contemporizo, quanto possível. Pois esse é o essencial. Evitar litígios. Não estou falando que devamos falsear nossos temperamentos, ou fingir sorrisos ou 'caras-feias'. Sejamos justos. Isso basta.

Extrapolamos? Com certeza! Eu confesso que extrapolo, e muito! Meus temperamentos vêm das terras da Cidade Eterna - La Mama Itália! - mas também vem de lá a Fé que professo. E justamente por isso, lembro-me sempre de um Santo sul americano que pedia a Deus: "controle meu gênio, Senhor!", por saber que era de temperamento difícil.

Pensamos que nos falta a humildade. Nada disso! Dia desses ouvi de um sacerdote o seguinte: "Ser humilde é ser sincero. É ser verdadeiro. É ser coerente, mas sem ser rude." Muitos pensam que ser humilde é viver de cabeça baixa e dizer 'amém' pra todo mundo... Isso é ser subserviente, o pior a que um ser humano pode se rebaixar. Não somos menores nem maiores que ninguém! Porque, diante de Deus, somos todos iguais!

Já ouviu falar da 'lógica eisteniana'?

O que nos faz diferentes são os dons que Deus nos dá.

Nos fazemos 'servos' dos outros, numa atitude livre, não de escavidão, por amor. Por caridade.

Ser acusado de faltar a caridade não me incomoda. Conheço meus pecados melhor do que qualquer um, pois meus pecados vêm de meu coração, e eu coloco, diariamente, o meu coração diante do altar de Deus, e peço que Ele tenha misericórdia de mim e me coloque no meu lugar.

O que me incomoda é saber que alguém que nos acusa de algo, acaba sofrendo do mesmo mal com o que rotula o outro. Correção fraterna é uma coisa. Acusar alguém, pelo simples fato de nossa atitude ter ido em confronto com suas opiniões e conceitos sobre algo, ou alguém, é outra. Até porque divergir pode ser educativo.

Crescemos, diante de uma atitude de conflito, para podermos superá-la. O processo de amadurecimento do ser humano passa pela senda das crises, também. Crescemos, quando nos abrimos para colher o que é positivo na crise. Como disse Nietzche, "o que não provoca a minha morte faz com que eu fique mais forte".

Diante da situação que me ocorreu, não parei no comentário feito e fiquei 'ruminando'. Avaliei a situação; e dela retirei o que havia de bom para mim. A primeira coisa que me veio foi compreender a atitude do outro. Seus motivos, suas inquietações. Minha atitude poderá ter-lhe sido benéfica, também, se o tirou de seu lugar-comum, e fê-lo dar um passo em direção a seu amadurecimento e crescimento interior. Se sim, dou graças a Deus.

Coloquei-me diante de Deus, e Ele me respondeu com o Salmo 72: "Então foi em vão que conservei o coração puro...? Reflito para compreender esse problema, e mui penosa me pareceu essa situação, até o momento em que entrei em vosso santuário...para mim, a felicidade é me aproximar de Deus, é por minha confiança no Senhor Deus." (Sl 72,13.16-17a.28a).

Vivemos esses dias soleníssimos da Páscoa do Senhor, e da festa da Misericórdia. Estamos encontrando, no Papa Francisco, um homem de uma sabedoria singular, e de uma expressão vívida da verdadeira humildade e caridade cristã.

Em sua homilia, ontem, o Papa Francisco nos ensina que o verdadeiro amor cristão é rebaixar-se a si mesmo, na humildade, assim como fez Deus, em Sua kenosis.

Isso nos mostra que temos muito que aprender. Não conosco, mas com Aquele que nos criou e nos amou até a morte, e morte de cruz.

No fim, devo agradecer a quem me criticou. Cresci mais um degrau como ser humano.

Lição aprendida, que esperarei viver com a graça de Deus. Amém!


E seja Feliz!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A ressurreição dos corpos no Juízo Universal

Canet tuba, et mortui resurgent incorrupti; et nos immutabimur – “A trombeta soará, e os mortos ressucitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (I Cor. 15, 52).

Sumário. É um ponto da nossa fé que todos nós ressurgiremos; porém não todos de maneira igual, mas cada um segundo a vida que tiver levado em terra. Felizes de nós, se agora nos aplicarmos à mortificação do nosso corpo, afim de guardá-lo submisso ao espírito. Retomá-lo-emos ressurgido segundo a medida da idade plena de Cristo e dotado de dons perfeitíssimos. Excederá o sol em claridade, na agilidade os ventos, e em sutileza e impassibilidade será igual aos anjos.

I. Porque o último fim do homem é a beatitude e esta não se pode gozar na vida presente, o Senhor dispôs que se possa obter na outra, onde será eterna. O homem porém, no dizer de Santo Tomás, não seria plenamente feliz, se a alma não se unisse ao corpo, porquanto, sendo o corpo parte natural da natureza humana, a alma dele separada seria apenas uma parte do homem e não o homem inteiro. Por isso é que no derradeiro dia haverá a ressurreição universal: Canet tuba, et mortui resurgent – “A trombeta soará, e os mortos ressuscitarão”.

Ao som da trombeta as almas formosas dos bem-aventurados descerão do céu, para se unirem a seus corpos, com os quais serviram a Deus. Ressuscitarão, como diz São Paulo, em estado de homem perfeito, segundo a medida da idade plena de Cristo (1). Além de serem dotados de sentidos perfeitíssimos, os quais terão cada qual a sua recompensa particular, serão ornados de quatro qualidades ou dotes.

Em primeiro lugar, os corpos dos bem-aventurados serão impassíveis; por isso não somente estarão livres da morte e da corrupção, mas também de qualquer lesão, de sorte que, se fossem enviados ao inferno, nenhuma pena poderiam padecer. – Em segundo lugar serão sutis, isto é, como que espiritualizados, de forma que a alma governará o corpo à maneira de espírito, porque este lhe obedecerá perfeitamente. – Em terceiro lugar os corpos dos bem-aventurados serão ágeis, podendo ser movidos e levados pela alma para qualquer parte, sem obstáculo, com máxima e quase imperceptível ligeireza. – O quarto dote finalmente será a claridade, em virtude da qual o corpo glorificado despedirá de si uma luz admirável, muito mais brilhante do que a do sol, mas sem deslumbrar a vista. – Se, além disso, alguém tiver dado a vida por Jesus Cristo, ou conservado intacta a açucena da pureza, ou pela pregação tiver sido para outros mestres da salvação, receberá a auréolade Mártir, de Virgem ou de Doutor. – Feliz daquele que, mortificando-se na vida presente, for digno de receber um dia em seu corpo todos esses dons, que agora nem sabemos avaliar devidamente!

II. Ecce mysterium vobis dico: omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimur (2) – “Eis que vos digo um mistério: todos nós ressuscitaremos, mas nem todos seremos mudados”. Palavras terríveis, mas verdadeiras! Porquanto, como Jesus Cristo mesmo disse, posto que todos os que estiverem nos sepulcros tenham de ressuscitar ao ouvir a voz do Filho de Deus, todavia haverá entre eles grande diferença. Os que obraram o bem, sairão para a ressurreição da vida; mas os que obraram o mal, sairão ressuscitados para a condenação (3).

Minha alma, é certo que naquele dia tu também ressuscitarás; mas qual será a tua sorte?... achar-te-ás no número dos escolhidos ou dos réprobos?... Se queres estar entre os primeiros, é mister, como diz o Apóstolo, que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós andemos em novidade de vida (4). Esta ressurreição espiritual se deve manifestar na reforma de nossa conduta. – Por isso o espírito deve ocupar-se só com o pensamento da eternidade; os olhos só se devem abrir para as coisas celestiais; as mãos só devem servir para praticar o bem, e os nossos afetos devem seguir alegremente o caminho dos mandamentos divinos. Numa palavra, como diz o mesmo Apóstolo: Si consurrexistis cum Christo, quae sursum sunt, quaerite... quae sursum sunt sapite, non quae super terram (5) – “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são lá do alto... tende gosto pelas coisas que são lá do alto, não pelas que estão na terra”.

Meu amabilíssimo Jesus, creio na ressurreição da carne no último dia, porque Vós revelastes; e porque a creio, bem como as demais verdades que a Igreja me propõe para crer, quisera dar por ela o meu sangue e a minha vida. Ah, Senhor, pela vossa santa ressurreição, dai-me a graça de mortificar aqui na terra o meu corpo; fazei que viva casto e longe de todos os prazeres proibidos, afim de ter um dia parte na ressurreição gloriosa dos escolhidos. Amo-Vos, Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, de todo o coração. Pesa-me de Vos haver ofendido. Não permitais que Vos torne a ofender; fazei que Vos ame sempre, e depois, disponde de mim segundo o vosso agrado. † Doce Coração de Maria, sede minha salvação. (*VIII 1043.)
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1. Eph. 4, 13.
2. I Cor. 15, 51.
3. Io. 5, 29.
4. Rom. 6, 4.
5. Col. 3, 1.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 3 - 6.)

Fonte: São Pio V

Mensagem e Benção Pascal - Papa Francisco

Brasão Papal passa por pequenas modificações 
Mensagem Pascal e Benção “Urbi et Orbi”
Balcão Central da Basílica Vaticana
Domingo, 31 de março de 2013
Boletim da Santa Sé
Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro, boa Páscoa! Boa Páscoa!
Que grande alegria é para mim poder dar-vos este anúncio: Cristo ressuscitou! Queria que chegasse a cada casa, a cada família e, especialmente onde há mais sofrimento, aos hospitais, às prisões…
Sobretudo queria que chegasse a todos os corações, porque é lá que Deus quer semear esta Boa Nova: Jesus ressuscitou, há uma esperança que despertou para ti, já não estás sob o domínio do pecado, do mal! Venceu o amor, venceu a misericórdia! A misericórdia sempre vence!
Também nós, como as mulheres discípulas de Jesus que foram ao sepulcro e o encontraram vazio, nos podemos interrogar que sentido tenha este acontecimento (cf. Lc 24, 4). Que significa o fato de Jesus ter ressuscitado? Significa que o amor de Deus é mais forte que o mal e a própria morte; significa que o amor de Deus pode transformar a nossa vida, fazer florir aquelas parcelas de deserto que ainda existem no nosso coração. E isto é algo que o amor de Deus pode fazer.
Este mesmo amor pelo qual o Filho de Deus Se fez homem e prosseguiu até ao extremo no caminho da humildade e do dom de Si mesmo, até a morada dos mortos, ao abismo da separação de Deus, este mesmo amor misericordioso inundou de luz o corpo morto de Jesus e transfigurou-o, o fez passar à vida eterna. Jesus não voltou à vida que tinha antes, à vida terrena, mas entrou na vida gloriosa de Deus e o fez com a nossa humanidade, abrindo-nos um futuro de esperança.
Eis o que é a Páscoa: é o êxodo, a passagem do homem da escravidão do pecado, do mal, à liberdade do amor, do bem. Porque Deus é vida, somente vida, e a sua glória somos nós: o homem vivo (cf. Ireneu, Adversus haereses, 4, 20, 5-7).
Papa Francisco na benção "Urbi et Orbi". Foto: Clarissa Oliveira / Canção Nova
Papa Francisco na benção “Urbi et Orbi”. Foto: Clarissa Oliveira / Canção Nova
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Amados irmãos e irmãs, Cristo morreu e ressuscitou de uma vez para sempre e para todos, mas a força da Ressurreição, esta passagem da escravidão do mal à liberdade do bem, deve realizar-se em todos os tempos, nos espaços concretos da nossa existência, na nossa vida de cada dia. Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Sobretudo o deserto que existe dentro dele, quando falta o amor de Deus e ao próximo, quando falta a consciência de ser guardião de tudo o que o Criador nos deu e continua a dar. Mas a misericórdia de Deus pode fazer florir mesmo a terra mais árida, pode devolver a vida aos ossos ressequidos (cf. Ez 37, 1-14).
Eis, portanto, o convite que dirijo a todos: acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! Deixemo-nos renovar pela misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por Jesus, deixemos que a força do seu amor transforme também a nossa vida, tornando-nos instrumentos desta misericórdia, canais através dos quais Deus possa irrigar a terra, guardar a criação inteira e fazer florir a justiça e a paz.
E assim, a Jesus ressuscitado que transforma a morte em vida, peçamos para mudar o ódio em amor, a vingança em perdão, a guerra em paz. Sim, Cristo é a nossa paz e, por seu intermédio, imploramos a paz para o mundo inteiro.
Paz para o Oriente Médio, especialmente entre israelitas e palestinos, que sentem dificuldade em encontrar a estrada da concórdia, a fim de que retomem, com coragem e disponibilidade, as negociações para pôr termo a um conflito que já dura há demasiado tempo. Paz no Iraque, para que cesse definitivamente toda a violência, e sobretudo para a amada Síria, para a sua população vítima do conflito e para os numerosos refugiados, que esperam ajuda e conforto. Já foi derramado tanto sangue… Quantos sofrimentos deverão ainda atravessar antes de se conseguir encontrar uma solução política para a crise?
Paz para a África, cenário ainda de sangrentos conflitos: no Mali, para que reencontre unidade e estabilidade; e na Nigéria, onde infelizmente não cessam os atentados, que ameaçam gravemente a vida de tantos inocentes, e onde não poucas pessoas, incluindo crianças, são mantidas como reféns por grupos terroristas. Paz no leste da República Democrática do Congo e na República Centro-Africana, onde muitos se vêem forçados a deixar as suas casas e vivem ainda no medo.
Paz para a Ásia, sobretudo na península coreana, para que sejam superadas as divergências e amadureça um renovado espírito de reconciliação.
Paz para o mundo inteiro, ainda tão dividido pela ganância de quem procura lucros fáceis, ferido pelo egoísmo que ameaça a vida humana e a família – um egoísmo que faz continuar o tráfico de pessoas, a escravatura mais extensa neste século vinte e um. O tráfico de pessoas é realmente a escravatura mais extensa neste século vinte e um! Paz para todo o mundo dilacerado pela violência ligada ao narcotráfico e por uma iníqua exploração dos recursos naturais. Paz para esta nossa Terra! Jesus ressuscitado leve conforto a quem é vítima das calamidades naturais e nos torne guardiões responsáveis da criação.
Amados irmãos e irmãs, originários de Roma ou de qualquer parte do mundo, a todos vós que me ouvis, dirijo este convite do Salmo 117: «Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterno o seu amor. Diga a casa de Israel: É eterno o seu amor» (vv. 1-2).
Saudação
Queridos irmãos e irmãs, a vós aqui reunidos de todos os cantos do mundo nesta Praça, coração da cristandade, e a todos vós que estais conectados através dos meios de comunicação, renovo o meu voto: Feliz Páscoa!
Levai às vossas famílias e aos vossos Países a mensagem de alegria, de esperança e de paz, que a cada ano, neste dia, se renova com vigor.
O Senhor ressuscitado, vencedor do pecado e da morte, seja o amparo para todos, especialmente para os mais frágeis e necessitados. Obrigado pela vossa presença e pelo testemunho da vossa fé. Uma lembrança e um agradecimento especial pelo dom das belíssimas flores, que provêm dos Países Baixos. A todos repito com afeto: Que Cristo ressuscitado guie a todos vós e à humanidade inteira pelos caminhos de justiça, de amor e de paz.

Páscoa - Vida Nova!

Olhando a extrema Misericórdia de Deus, que, incansavelmente procura o homem, para resgatar-lhe da morte, experienciei, nestes últimos dias, que para participar plenamente da jubilosa alegria da Ressurreição de Cristo (que também é - será - a minha), também preciso, continuamente, abandonar o 'homem velho' (como disse o Pe. João Carlos Feliciano, Pároco da Matriz de Nossa Senhora da Ajuda - Guapimirim, nas suas felizes homilias na Vigília Pascal e ontem, no Domingo da Páscoa.
Este 'homem velho' tem magoado muita gente, tem deixado cair muitos espinhos nas estradas dos meus irmãozinhos. Bem o sei.
Mas a consciência nova que o Cristo Ressurgido me dá, faz com que eu diga a todos: "Perdão! Nós precisamos ser felizes juntos! Eu quero viver esta 'páscoa'; esta 'passagem' para uma nova vida renascida das trevas do Sábado Santo, para o Sol do Novo Dia, que é Jesus, e quero que todos vocês, meus Irmãozinhos, estejam comigo, partilhando este Jesus Renascido em nossos corações.
Quero partilhar isso com todos. Porque todos somos Irmãos, nesse Cristo que eu amo, e que eu enxergo em cada um de vocês. Portanto, amo a cada um de vocês, também, imagem desse Cristo Vivo e Ressuscitado.
Rezo por cada um. Rezem por mim.
Feliz Páscoa, então, na alegria e no perdão.