Hoje eu vou falar de uma mulher.
Até hoje, ainda não tinha encontrado uma oportunidade para isso, dada a importância que esta mulher tem em minha vida.
Vou lhes apresentar, hoje, a minha mãe.
Desde que me entendo por gente, essa mulher tem uma presença em minha vida de forma tão característica que é difícil explicar.
Não é uma presença dominadora, ou extravagante, mas vigilante, cuidadosa, amorosa.
Nunca pude olhar a minha mãe sem deixar transparecer por ela o amor, o respeito que sua presença impõe.
Apesar de ser assim tão imponente, essa presença materna nunca 'fez sombra' sobre mim.
Firme, sem ser rude.
Nunca vi ninguém respeitar tanto a minha liberdade, e sei o quanto ela sempre rezou por mim, especialmente naqueles tempos em que eu andei 'desgarrado'. Se alguém já leu o livro de Santo Agostinho, "Confissões", saberá do que estou falando, pois aquele santo livro descreve não apenas a vida daquele grande Santo e Doutor da Igreja, mas reflete, em muitas situações, a minha vida e os meus dramas também! Impressionante, não? Então devo acrescentar aqui que foi por meio de sua leitura, que eu encontrei o Caminho de volta. E assim como Santa Monica derramou lágrimas por seu filho, sei que minha mãe as derramou por mim, também.
Mas não importava a dor que lhe inflingisse com meus pecados de filho desobediente e desgarrado da fé. Ela sempre me teve amor e seu sorriso jamais me faltou. Nem sua ajuda, em qualquer situação de minha vida. Eu realmente não me lembro de não ter sido atendido em algo que pedi à minha mãe, nessa vida...
Com meu pai, foi uma relação igual à de tantas outras vidas matrimoniais. Não houve nada de diferente. Um casal que se amava profundamente. Entendiam-se e se conheciam tanto que num olhar se comunicavam. Esta beleza eu guardo em meu coração, e procuro levar para meu casamento. E como isso é difícil! Então vejo, neste estado, a Graça de Deus, que concede aos seus filhos amados e amantes, o beneplácito de Seu Amor, que faz completo o amor humano.
Minha mãe, assim - e mais, creio eu - como meu pai, vive uma fé profunda, enraizada na Oração, na meditação da Palavra de Deus, na Eucaristia e no amor filial a Maria Santíssima. Não consigo perscrutar ou penetrar esse 'mistério' de amor (sim, eu tento!).
É incrível o que minha mãe consegue com a força de sua oração. Praticamente tudo. Mas, o que ela pede? Nunca nada para si, sempre para nós, filhos e noras e genros e netos. Acho que aí reside um segredo, o de ser sempre atendida por Deus, e estar sempre na Sua Graça, e nada, nunca, ter-lhe faltado, e a nós...
É incrível o que minha mãe consegue com a força de sua oração. Praticamente tudo. Mas, o que ela pede? Nunca nada para si, sempre para nós, filhos e noras e genros e netos. Acho que aí reside um segredo, o de ser sempre atendida por Deus, e estar sempre na Sua Graça, e nada, nunca, ter-lhe faltado, e a nós...
Lembro-me dela durante a doença que vitimou o meu pai, e lembro-me dela no sepultamento...aqueles dias dolorosos que me afetarão até o dia de minha morte...lembro-me dela: parecia tão pequena, então...mas o seu olhar, mesmo vendo-lhe a alma em frangalhos, despedaçada, vazia, o seu olhar negro estava em riste! Atenta a tudo: a nós, filhos, a nossas necessidades, e consolava a todos, e pude vê-la, diante das lágrimas alheias, permitir-se um sorriso cândido que consolava...ela permaneceu de pé, naquela dor que me derrubou...
Após a partida de meu pai, vi-a tratar dos assuntos do espólio como grande administradora: concentrada e decidida, para não nos fazer sofrer seu sofrimento. E eu, profissional, curvei-me diante de sua autoridade...
Não a vi chorar em momento algum. Insensível? Não! Por alguns meses após o falecimento de meu pai, ela, ao se retirar para seu quarto, trancava a porta (meus pais nunca dormiam com a porta fechada). Sei que ali, no leito nupcial, o grande altar do matrimônio, sei que ali ela chorou. Sei que, ali, ela permitiu desfalecer-se. Mas somente pelo tempo necessário, pois ela sempre nos ensinou que a cada dia vem uma nova esperança.
Como meu pai, minha mãe me ensinou os caminhos da fé. Tive a grande felicidade de tê-la como minha Catequista. Por ela aprendi o significado do Amor a Deus, à Sua Santa Palavra, à Eucaristia, à Sua Santa Mãe, à Sua Igreja.
"Em todas as circunstâncias, dai graças", diz São Paulo. Eis a lição que minha mãe aprendeu cedo, e nos ensinou logo. Nunca a vi lamentar a nossa vida difícil. Quando perdeu a sua mãe, numa batalha contra o câncer, nenhuma reclamação. Depois, durante oito anos com seu pai em uma cama, dando-lhe banho e alimento, nenhum lamento. Durante a doença de meu pai, só nos pedia orações para que ele melhorasse. Em seu sepultamento, silêncio e serenidade. Após, pediu que orássemos por ele e permanecêssemos unidos. Nunca um murmúrio.
Algum leitor desavisado poderá achar que estou floreando e exaltando esta mulher, pois afinal é minha mãe. Na verdade, estou exaltando a Deus que criou esta mulher e a deu a meu pai por esposa, para que ela pudesse vir a ser a minha mãe!
E hoje, no seu aniversário, deixo aqui minha singela homenagem a esta mulher, Euthalia Sampaio!
E não deixo de perceber, em todas as situações que narrei acima, como ela configurou sua vida com a de outra Mulher maravilhosa a quem eu também chamo de Mãe: Mãe Castíssima, Mãe Santíssima, desde que o Seu próprio Filho, do alto de um madeiro a nominou como minha também, dizendo-me: "Filho, eis Tua Mãe!" (Jo 19,27)
Sou feliz hoje, mãe, porque posso olhar para a senhora e ver o Amor de Deus pelos seu olhos, e no seu abraço, sentir o abraço materno de Maria, e na sua voz, a voz cândida do Espírito Santo, e no seu exemplo seguir os passos de Jesus.
"Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus." (Mt 5,16)
Feliz! Feliz! Feliz aniversário, minha mãe!
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