segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Igreja se mostra preocupada com o tráfico de pessoas

CNBB lançará, para o próximo ano, Campanha da Fraternidade sobre esse assunto

Por Alessandra Borges
Da redação

O tráfico de pessoas tornou-se um problema que vem se agravando devido ao número de vítimas. Este tipo de tráfico viola os direitos humanos e ameaça a vida e a dignidade das pessoas.

tráfico de pessoas 565x350Não há dados concretos sobre o tráfico humano no território brasileiro, mas estima-se que nos países da América Latina cerca de 250 mil pessoas são vitimadas pelo tráfico todos os anos segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2008. Conforme dados, na América Latina e no Caribe há pelo menos 1,3 milhões de pessoas em situação de trabalho forçado.Dados fornecidos pelas Nações Unidas apontam que cerca de 700 mil mulheres e um milhão de crianças são traficadas todos os anos no mundo (ONU, 2008).

No Brasil, os Estados mais atingidos são Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, além dos estados brasileiros que fazem fronteira com outros países.

O resultado do ‘Relatório nacional sobre tráfico de pessoas: consolidação dos dados de 2005 a 2011′, elaborado pela Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça (SNJ/MJ) em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNDOC), aponta que, dos 514 inquéritos instaurados pela Polícia Federal, durante esse período, 344 são referentes ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas, 157 são internacionais e os outros 13 são internos. Os dados ainda demonstram que a maioria das pessoas traficadas são mulheres entre 18 a 29 anos e adolescentes.

Frente a essa situação alarmante, a Igreja realizou, no início deste mês de novembro, no Vaticano, um encontro internacional sobre esse tema, fortificando o apoio da Igreja na luta contra esse crime e levando aos cristãos uma maior conscientização sobre esse problema que atinge todo o mundo.


A Igreja no Brasil abordará essa questão, junto a todas as arquidioceses e dioceses, no próximo ano, durante a Campanha da Fraternidade, cujo tema será ‘Fraternidade e Tráfico Humano’; e o lema: “É para liberdade que Cristo nos libertou (GI 5,1)”.

De acordo com a religiosa, Irmã Eurídes Alves de Oliveira (Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, mestra em Ciências da religião, pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp –, coordenadora da rede ‘Um Grito Pela Vida’ e integrante da coordenação do GT de Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB), a temática da Campanha da Fraternidade 2014 vem para intensificar, ainda mais, as ações pastorais desenvolvidas com a sociedade para diminuir o número de vítimas do tráfico.

“A multiplicação do tema torna, de fato, o assunto e a problemática visíveis para, de certa forma, sensibilizar e envolver a sociedade, o Estado e a Igreja nessa luta. Nós temos informações de que o tráfico de pessoas está entre as três vendas ilícitas mundiais, sendo, hoje, o crime que mais ceifa vidas inocentes”, destacou Irmã Eurídes.

Hoje, as duas formas mais visíveis de tráfico estão ligadas ao trabalho escravo urbano e rural. Além destes, a exploração sexual faz parte das estatísticas, pois o volume de pessoas induzidas à prática de prostituição é grande. De acordo com a religiosa, pode-se dizer que 15% das mulheres que vivem em situação de escravidão sexual na Europa foram levadas do Brasil.

“O Brasil é um país que, pela sua extensão, pela sua cultura, por seu turismo e por toda herança escravocrata e origem colonizadora, carrega em si a marca da escravidão, é uma grande expressão no tráfico de pessoas. No Brasil, são poucas as pesquisas e os dados são muito embrionários, às vezes, defasados, mas podem comprovar e constatar um elevado índice de tráfico para o trabalho escravo e também para a exploração sexual”, ressaltou a religiosa.

O grupo de pessoas mais atingidas por esta prática ilegal são as mulheres e adolescentes, pois os criminosos induzem as vítimas com falsas promessas de um futuro melhor. Um fator agravante são as inúmeras desigualdades sociais que encontramos em muitos países.

“A exploração sexual é 70% de mulheres e adolescentes, sobretudo meninas. Os dados que possuímos e os fatos comprovam que o fato acontece por meio de aliciamento com falsas promessas e enganos. São as pessoas das regiões mais vulneráveis e empobrecidas que, seduzidas por promessas de melhoria de vida, de realização de um sonho para elas e para a família, acabam se deixando levar e caem nas malhas dos traficantes”, explicou a Irmã Eurides.

Diante desta realidade, é grande a preocupação da Igreja. Os trabalhos nas comunidades e na sociedade se intensificaram nos movimentos pastorais e também nas ações do grupo ‘Um grito pela vida’; além da realização de seminários e simpósios sobre o assunto, contando sempre com o apoio da CNBB.

“Tem crescido uma grande rede de articulação com outros organismos da sociedade civil. Inclusive, a CNBB realizou dois seminários sobre o tráfico de pessoas fazendo uma parceria também com o Ministério da Justiça. É uma ação pastoral, mas também política. A vida humana é sagrada e a violação do direito precisa ser pensada, porque ela fere a dignidade do próprio ser”, disse a religiosa.

A rede ‘Um Grito pela Vida’ pretende lançar uma campanha intitulada ‘Jogue a favor da vida’, antes e durante a copa de 2014, com o propósito de conscientizar e também realizar uma prevenção ao tráfico de pessoas em tempo de Copa do Mundo, quando o fluxo de pessoas circulando pelo país será grande.

Com informações do site Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) e do blog da rede ‘Um Grito Pela Vida’.

Créditos fotografia: Wesley Almeida

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