Por Alessandra Borges
Da redação
O tráfico de pessoas tornou-se um problema que vem se agravando devido ao número de vítimas. Este tipo de tráfico viola os direitos humanos e ameaça a vida e a dignidade das pessoas.

No Brasil, os Estados mais atingidos são Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, além dos estados brasileiros que fazem fronteira com outros países.
O resultado do ‘Relatório nacional sobre tráfico de pessoas: consolidação dos dados de 2005 a 2011′, elaborado pela Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça (SNJ/MJ) em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNDOC), aponta que, dos 514 inquéritos instaurados pela Polícia Federal, durante esse período, 344 são referentes ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas, 157 são internacionais e os outros 13 são internos. Os dados ainda demonstram que a maioria das pessoas traficadas são mulheres entre 18 a 29 anos e adolescentes.
Frente a essa situação alarmante, a Igreja realizou, no início deste mês de novembro, no Vaticano, um encontro internacional sobre esse tema, fortificando o apoio da Igreja na luta contra esse crime e levando aos cristãos uma maior conscientização sobre esse problema que atinge todo o mundo.
A Igreja no Brasil abordará essa questão, junto a todas as arquidioceses e dioceses, no próximo ano, durante a Campanha da Fraternidade, cujo tema será ‘Fraternidade e Tráfico Humano’; e o lema: “É para liberdade que Cristo nos libertou (GI 5,1)”.
De acordo com a religiosa, Irmã Eurídes Alves de Oliveira (Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, mestra em Ciências da religião, pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp –, coordenadora da rede ‘Um Grito Pela Vida’ e integrante da coordenação do GT de Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB), a temática da Campanha da Fraternidade 2014 vem para intensificar, ainda mais, as ações pastorais desenvolvidas com a sociedade para diminuir o número de vítimas do tráfico.
“A multiplicação do tema torna, de fato, o assunto e a problemática visíveis para, de certa forma, sensibilizar e envolver a sociedade, o Estado e a Igreja nessa luta. Nós temos informações de que o tráfico de pessoas está entre as três vendas ilícitas mundiais, sendo, hoje, o crime que mais ceifa vidas inocentes”, destacou Irmã Eurídes.
Hoje, as duas formas mais visíveis de tráfico estão ligadas ao trabalho escravo urbano e rural. Além destes, a exploração sexual faz parte das estatísticas, pois o volume de pessoas induzidas à prática de prostituição é grande. De acordo com a religiosa, pode-se dizer que 15% das mulheres que vivem em situação de escravidão sexual na Europa foram levadas do Brasil.
“O Brasil é um país que, pela sua extensão, pela sua cultura, por seu turismo e por toda herança escravocrata e origem colonizadora, carrega em si a marca da escravidão, é uma grande expressão no tráfico de pessoas. No Brasil, são poucas as pesquisas e os dados são muito embrionários, às vezes, defasados, mas podem comprovar e constatar um elevado índice de tráfico para o trabalho escravo e também para a exploração sexual”, ressaltou a religiosa.
O grupo de pessoas mais atingidas por esta prática ilegal são as mulheres e adolescentes, pois os criminosos induzem as vítimas com falsas promessas de um futuro melhor. Um fator agravante são as inúmeras desigualdades sociais que encontramos em muitos países.
“A exploração sexual é 70% de mulheres e adolescentes, sobretudo meninas. Os dados que possuímos e os fatos comprovam que o fato acontece por meio de aliciamento com falsas promessas e enganos. São as pessoas das regiões mais vulneráveis e empobrecidas que, seduzidas por promessas de melhoria de vida, de realização de um sonho para elas e para a família, acabam se deixando levar e caem nas malhas dos traficantes”, explicou a Irmã Eurides.
Diante desta realidade, é grande a preocupação da Igreja. Os trabalhos nas comunidades e na sociedade se intensificaram nos movimentos pastorais e também nas ações do grupo ‘Um grito pela vida’; além da realização de seminários e simpósios sobre o assunto, contando sempre com o apoio da CNBB.
“Tem crescido uma grande rede de articulação com outros organismos da sociedade civil. Inclusive, a CNBB realizou dois seminários sobre o tráfico de pessoas fazendo uma parceria também com o Ministério da Justiça. É uma ação pastoral, mas também política. A vida humana é sagrada e a violação do direito precisa ser pensada, porque ela fere a dignidade do próprio ser”, disse a religiosa.
A rede ‘Um Grito pela Vida’ pretende lançar uma campanha intitulada ‘Jogue a favor da vida’, antes e durante a copa de 2014, com o propósito de conscientizar e também realizar uma prevenção ao tráfico de pessoas em tempo de Copa do Mundo, quando o fluxo de pessoas circulando pelo país será grande.
Com informações do site Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) e do blog da rede ‘Um Grito Pela Vida’.
Créditos fotografia: Wesley Almeida
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